sábado, 26 de novembro de 2016

Tattoo de cacto no braço

Daqueles roteiros de curta metragem que a gente imagina que ficaria bonito:
Se viam na estação de trem. Estavam sempre ali, no mesmo horário, mesma plataforma, carros diferentes.
Um dia, ela olhava ao longe duas mãos, que mal dava pra ver de quem eram, se acarinharem enquanto se seguravam para não cair. Queriam estar em contato uma com a outra. E ela lá, olhando aquela cena bonita, esquecendo do quão lotado estava o trem. Tão lotado que nem percebeu quem estava ao redor.
Como se lesse os pensamentos, aproveitando a super proximidade forçada, ele tocou na mão dela, que segurava a bolsa junto ao corpo. Fez um carinho. Chegou na estação, a porta abriu, ele desceu, na hora em que ela acordou do transe provocado pelo balanço do trem sufocado.
Os dois se olharam quando o trem voltou a andar. Os dois se olharam no dia seguinte. E no outro, de longe. E em mais um, ele fora da estação fumando um cigarro, e ela do lado de dentro.
Então os caminhos mudaram. Não se viram mais. Ou se viram? Ela sempre passa tão apressada, e um dia ele estava com uma garota. Ele é tão diferente, tem uma tattoo de cacto no braço. Era ele o amigo do cara que estava com ela uma vez? Não se lembram. Ou lembram, mas não se falaram.
Um dia, ela cansada, se arrastando como um zumbi, só conseguia pensar "tenho que jantar? Não posso pular essa parte e só dormir?" passou andando por um ponto de ônibus e só conseguia identificar "pessoa à direita, pessoa à esquerda, pessoa à frente". Olhava pra frente. Olhava mas não via, Se via, não enxergava. Olhar fixo à frente. Pessoa à frente. Desviar da pessoa à frente. Se aproximar do portão. Portão abriu. Ela entrou e fechou o portão. Acordou do transe e olhou para o ponto de ônibus, tentando enxergar através das barras do portão. Ele olhava para ela.
Ela piscou duas vezes. Não soube o que fazer. Continuou andando para o elevador e pensou "Não lembro se tranquei a porta. Eu guardei a chave?"
Talvez tenha sido ele quem pediu o mesmo sabor de pizza que ela, no dia em que ela ligou para a pizzaria.

sábado, 14 de maio de 2016

Pesadelos de febre

Texto de 2 anos atrás.

Passar a noite inteira tratando da febre e sonhar que estava andando no Extra de São Caetano e encontrando uma pessoa conhecida a cada corredor.

 Não, isso não eh uma coisa boa.

Eu sou uma pessoa bem sociável, gosto de encontrar as pessoas do nada em qualquer outro lugar, menos nos mercados de SCS.

Sim, eu sou estranha.

Vai ver eu não gosto de encontrar as pessoas de SCS, porque a maioria delas fizeram parte do meu passado zoado, da criança/adolescente que sofria bullying na escola, por ser magra, nariguda e chorona, no tempo em que essa zoação não tinha nome e não dava processo.

Dai fica aquela sensação de filme americano, sabe? Onde as pessoas da escola começam a se reencontrar e falar que são suuuper bem sucedidas, que nunca mais tiveram noticias de você, e todo o blablabla.

Não que elas sejam realmente alguma coisa muito "uau!", mas te olham como se fossem.

No pesadelo rolou ate ex gerente me perguntando se eu a estava perseguindo, Ja que trombo com ela quase todos os dias na plataforma do trem.

Ainda bem que a febre passou.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

As pessoas no caminho...

Texto de um ano atrás. Não lembro se já postei aqui:

Não é  impressionante que,  no meio de tanta gente desconhecida andando pra lá e pra cá pelo mundo,  ainda há momentos em que a gente vê algum rosto conhecido no meio da multidão?

 Não estou falando das pessoas cujo os rostos se tornam conhecidos porque vc pega o trem ou entra no metrô aproximadamente no mesmo horário que elas,  todos os dias,  estou falando de pessoas que já fizeram parte do seu círculo de amizade,  de pessoas que já trabalharam com vc, etc.

Parece que,  por alguns segundos,  o mundo fica em slow motion,  só pra dar tempo de vc ver a pessoa "conhecida".

Não,  isso também não é  uma visão romântica do mundo,  nem estou fazendo um comparativo fofinho como a música da Marisa Monte.

Realmente,  há momentos em que a gente encontra pessoas que nunca imaginou encontrar em determinada rua,  mas o mundo da aquela desacelerada pra dar um "Oi" atravessando a rua,  tromba na escada rolante contrária e volta para dar um abraço,  mas infelizmente essa acelerada também acontece com gente que a gente não gosta. E parece que o slow motion fica alguns frames mais lentos,  daí por mais que vc tente acelerar,  só piora: vc quase faz uma cena dos trapalhões passando ao mesmo tempo que a ex-chefe na porta do trem,  só falta pegar o mesmo livro que aquela menina idiota na livraria, dá de cara com o ex peguete cri cri no aeroporto e tem que apresentar pra família.

Agora estou aqui torcendo pra acontecer que nem no ano passado,  que em uma semana eu encontrava um karma ruim,  mas na seguinte eu encontrava um karma bom. Ou  seja: karmas bons,  vcs já podem surgir no meu caminho,  venham! A quota de ruim já foi atingida!

sábado, 19 de dezembro de 2015

Horas de hospital


Dai vc vai ao pronto socorro porque está, com uma, dor de estômago que nunca sentiu. O médico diz "pode ser pedra nos rins, mas também pode ser algo no intestino". Vc vai fazer os exames e a enfermeira é bem legal, falando que vc pode usar o banheiro restrito ao invés de usar o comum. Vai tirar sangue, mas tem probleminha com esse tipo de agulha e tenta se concentrar em outra coisa. Se olha no reflexo dessa janela, e vê que vc está parecendo o vampiro do Crepúsculo, de tão branca. Vê um cara fazendo malabarismo com o celular, tentando tirar uma self com o acesso na veia. (vergonha alheia). Tem duas moças tomando soro ao seu lado. Uma fala de outros acidentes e de coisas piores que uma picadinha no braço. Vc fica mais branca. Faz amizade com as moças e fica na cadeira que tem revestimento de espuma pra esperar o exame ficar pronto. Todo mundo já foi embora. Mais gente chegou. Já li várias páginas do HP. Mais gente foi embora. E eu querendo limpar a luminária, que tá cheia de insetos mortos. Toc é complicado!



Amor de mochila, amor verdadeiro

Hoje eu estava falando com o terapeuta sobre como minha mochila é parceira. Ela vai pra onde eu vou (não questiona! Kkk), carrega minhas coisas, "me dá apoio" (serve de travesseiro), topa qualquer parada, etc., daí ele falou "mas vc tem que carregá - la!". Eu respondi:"sim, mas é uma troca, né? ". Hoje eu estava pensando como as pessoas tem mais meios de comunicação e não se falam. Encontram amigos em comum e dizem" que saudades da Andressa!", mas mandar uma msg que é bom, nada! Reclamam que não são chamadas para as coisas, mas tbm nunca chamam pra coisa alguma. Vocês já perceberam a dificuldade que é marcar algum coisa em grupo hj em dia? "Vamos marcar algo? VAMOS!", mas ao primeiro "eu não posso" no meio de 10, todos desistem. Não, isso não é questão de "ah Andressa, a gente quer que todo mundo possa ir". É questão de desperdiçar a chance de reunir pelo menos quem pode e está disposto, porque só estavam esperando por um motivo pra adiar. Ou por que vcs acham que dá mais certo os encontros marcados em cima da hora, dos que falam "tô indo, bora? Bora!". Mas não... Deixa pra outro dia! E se não tiver esse dia? E se amanhã alguém vai embora pra longe ou em definitivo? Nem história pra contar no velório as pessoas vão ter daqui a pouco. Ou terão! Várias assim : "fulano era bem legal! A gente se falava direto pelo whatsapp, era pra gente se encontrar, mas nunca dava certo!".E a desculpa de distância? Distância é muito relativo! Ok, não sou parâmetro, fui pra outro estado por quem eu gostava... Mas se eu não fizer o que acredito, o que vai sobrar de mim além de uma vaga lembrança de "a Andressa Michels? Aquela menina da mochila do rock, né?"

Sonhei com a Vasp...

Texto escrito em 19/12/2012:

Sonhei que ia rolar uma festa de confraternização da extinta VASP, justamente para reabrir a empresa. A ideia deles era pegar os estagiários da minha época (2004) e iniciar os trabalhos da empresa novamente. A parte da festa não era bem uma festa, parecia mais um grande treinamento, com as mesas onde trabalhávamos antes, mas os computadores não eram aqueles antigos e o sistema também não era mais o Zeus e suas letrinhas verdes! Foi legal pela parte de todo mundo se reencontrar depois de tanto tempo e tals, mas os planos da empresa foram por água abaixo porque até mesmo os melhores atendentes daquela época já estavam de saco cheio de atendimento telefônico e os que não compareceram à festa não foram porque já tinham entrado em depressão depois de 8 anos ou mais trabalhando com turismo, e tiveram um ataque de pânico ao receber tal convite, quase como os veteranos de guerras, que ficam loucos por lembrar de como foi na época em que a empresa faliu e recebíamos milhares de ligações com reclamações, além de não recebermos os últimos salários. Fim!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Voltando 20 anos

(Esse texto é uma continuação do texto anterior)

Fato é que, depois de 20 anos sem brincar com uma máquina dessas, eu passei no shopping (que eu passo todos os dias, na volta do trabalho) com uma idéia fixa:" eu vou lá pegar uma ficha e tentar pegar um bichinho! E se eu pegar, eu vou doar! Ah, a quem eu quero enganar? Se eu ganhar, vai ser o meu troféu de 20 anos de frustração superada!". 

Então cheguei lá, e não usam mais fichas. Usam cartão, e vc tem que pagar por ele também! Então escolhi a máquina de acordo com a pelúcia que parecia estar mais solta. Encarei um cocô emoji, que estava me olhando desde quando parei na porta do parque para localizar o caixa. 

Passei o cartão. Movimentei lentamente o gaaarra (tem como não lembrar do Toy Story com isso?) até onde eu imaginei que era em cima do cocô. Conferi nas outras direções, depressa, antes que "o gaaarra" tivesse vida própria. Apertei o botão. O gaaarra desceu, em câmera lenta, e fechou seus dedos ao redor do cocô, em um abraço perfeito. 

Meu coração acelerado, batendo na boca seca. Ainda em câmera lenta, ele se erguei 1cm e... TEC. O cocô e o garra ainda abraçados repousaram no monte de emocional de pelúcia , enquanto o mecanismo continuou a subir, foi em direção ao buraco de saída, e voltou a ficar inerte em sua posição inicial, ligado ao garra por um fio enrolado, como dos telefones dos anos 90.

Fiquei lá: parada, olhando, com a testa colada no vidro. E agora? Eu passo o cartão de novo pra puxar esse fio esticado? 

Acordei do transe. Vi a direita, um pouco a frente, os funcionários do parque recarregando outra máquina.

E agora? E se eu for ali e o
OUTRA criança aparecer e pegar MEU cocô? (que já chamo de meu, porque está mantendo o contato visual ha mais tempo do que muita gente já manteve na vida! ).

Prometi voltar com ajuda, e chamei o funcionário, que chamou a supervisora (depois de analisar o cenário). Eles abriram a máquina e disseram "acho que quebramos a máquina quando a limpamos!". A supervisora olhou pros outros e disse "pessoal, a máquina quebrou! Eu mês sem salário!". Deixei escapar um "eita", e continuei olhando. 

O rapaz ficou olhando para onde a garra deveria encaixar e tirou um pedaço de arame, eu acho. Disse que quebrou por dentro. A supervisora tirou a garra do cocô e o entregou na minha mão. "É seu, senhora! Desculpe e obrigada!". 

Fiquei olhando pra ele na minha mão. Sorrindo que nem besta. Agradeci aos funcionários e andei pra uma outra máquina onde vi uma etiqueta de "Club penguin" e lembrei que meu sobrinho Pedro tem um jogo desses personagens. Tentei pegar, levantou pela touca do bicho, e ele escorregou, nem chegou perto da saída.

Mas tudo bem, porque minha sorte torta do dia foi usada pra eu conseguir meu querido cocô!